Uma análise do Projeto F-X2, da escolha pelos caças suecos Gripen e do papel central da transferência de tecnologia para a indústria de defesa nacional, em um dos maiores investimentos da história do país.
A aquisição dos caças suecos Gripen pela Força Aérea Brasileira (FAB) representa um marco na modernização da defesa aérea do Brasil. O investimento, que pode chegar a R$ 29 bilhões, é um dos mais significativos já feitos pelo país e visa garantir a soberania do espaço aéreo para as próximas décadas.
Este artigo detalha a jornada do Brasil para adquirir 36 dessas aeronaves avançadas. Analisaremos o processo de seleção, as dimensões do contrato, o papel fundamental da transferência de tecnologia e as capacidades do novo caça F-39 Gripen.
A busca pela superioridade aérea: projeto F-X2
A decisão de modernizar a aviação de caça do Brasil foi impulsionada pela necessidade de substituir uma frota que envelhecia. Aeronaves como os Mirage 2000 e os F-5 Tiger II se aproximavam do fim de sua vida útil. O Projeto F-X2 foi lançado para adquirir um caça multimissão de última geração.
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Os objetivos iam além da simples compra. O Brasil buscava fomentar sua indústria de defesa através de um robusto programa de transferência de tecnologia. A competição atraiu os principais fabricantes globais. Os finalistas foram o Saab Gripen NG (Suécia), o Dassault Rafale (França) e o Boeing F/A-18 Super Hornet (EUA).
A decisão pelo Gripen: custo, desempenho e o fator decisivo da transferência de tecnologia
Em dezembro de 2013, o governo brasileiro anunciou a seleção do Saab Gripen NG. A decisão foi baseada em três pilares: desempenho, custos e transferência de tecnologia. O Gripen foi avaliado como uma aeronave que atendia aos requisitos operacionais da FAB, com aviônicos avançados e agilidade.
O caça sueco também foi apresentado como a solução com o melhor custo-benefício, considerando o preço de aquisição e os custos de operação e manutenção ao longo de seu ciclo de vida. No entanto, o fator mais determinante na escolha foi a promessa da Saab de uma transferência de tecnologia ampla e irrestrita, alinhada ao objetivo estratégico do Brasil de fortalecer sua base industrial e reduzir a dependência externa.
Os números por trás da compra dos caças suecos Gripen
O contrato para a aquisição dos 36 caças suecos Gripen foi assinado em outubro de 2014. O valor inicial foi de US$ 5,44 bilhões, o que equivalia a cerca de R$ 13 bilhões na época.
A cifra de R$ 29 bilhões, frequentemente mencionada, reflete uma estimativa posterior do custo total do programa. Esse valor maior é resultado da desvalorização do real, da inflação e de modificações solicitadas pelo Brasil, como a inclusão do avançado de cockpit Wide Area Display (WAD). O acordo também incluiu um substancial pacote de compensações industriais e tecnológicas, avaliado em US$ 9 bilhões.
A transferência de tecnologia como pilar estratégico
A opinião de especialistas e analistas de defesa é unânime: a transferência de tecnologia (ToT) foi o cerne da decisão brasileira. O acordo com a Saab foi desenhado para ser o mais abrangente possível, visando capacitar o Brasil a alcançar autonomia na operação, manutenção e desenvolvimento futuro do Gripen.
O programa envolve uma rede de empresas brasileiras, liderada pela Embraer, que é corresponsável pelo desenvolvimento da versão biposto (F-39F) e pela montagem final de 15 aeronaves em Gavião Peixoto (SP). A AEL Sistemas, em Porto Alegre (RS), desenvolveu o inovador WAD. Outras empresas, como a Akaer e a Saab Aeronáutica Montagens (SAM), em São Paulo, produzem componentes estruturais complexos. Este ecossistema tecnológico é o maior legado do programa.
F-39 Gripen: as capacidades do novo vetor de defesa aérea do Brasil
O Saab F-39 Gripen é um caça de 4.5ª geração. Ele representa um salto qualitativo para a FAB. Equipado com o radar AESA Raven ES-05 e o sensor infravermelho IRST Skyward-G, possui uma consciência situacional superior.
Seu motor General Electric F414 confere à aeronave a capacidade de supercruise, ou seja, voar em velocidade supersônica sem usar pós-combustores, economizando combustível. Com velocidade máxima de Mach 2, o Gripen pode carregar uma vasta gama de armamentos, incluindo mísseis de longo alcance como o Meteor. Sua arquitetura aberta facilita a integração de novas tecnologias ao longo de sua vida útil de 50 anos.