Com operação sem caminhões, processamento a seco e sem barragens, o projeto S11D em Carajás (PA) representa o futuro da mineração, mas sua construção foi uma saga de desafios de engenharia e socioambientais
No coração da Amazônia brasileira, em Canaã dos Carajás (PA), a Vale S.A. ergueu um monumento à inovação e à escala: o Complexo S11D Eliezer Batista. Considerado o maior empreendimento da história da empresa e da indústria de minério de ferro, o projeto S11D é aclamado como a mina mais tecnológica do mundo.
Nascido de um investimento que se aproxima de US$ 19,5 bilhões, o projeto S11D foi concebido para redefinir os padrões de sustentabilidade e eficiência na mineração. Entenda a “batalha” por sua construção, suas tecnologias revolucionárias e os complexos impactos de um gigante em meio à maior floresta do planeta.
A gênese de um gigante, a visão por trás do projeto S11D
O projeto S11D nasceu da ambição da Vale de fortalecer sua liderança no mercado global de minério de ferro, focando em um produto de altíssima qualidade (teor de 66,48% de ferro) para atender à crescente demanda asiática.
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O empreendimento foi oficialmente nomeado “Complexo S11D Eliezer Batista”, uma homenagem ao ex-presidente da Vale, Eliezer Batista, um visionário que defendia projetos de grande escala e a integração de aspectos ambientais e sociais desde a concepção.
A capacidade nominal foi planejada em 90 milhões de toneladas métricas anuais (Mtpa). A meta não era apenas o volume, mas revolucionar a mineração com foco em sustentabilidade, através da eliminação de caminhões na cava e uma drástica economia de água no processamento.
O investimento bilionário e os desafios na Amazônia
A cifra do investimento reflete a magnitude do projeto. Embora frequentemente citado em US$ 14 bilhões, o valor total, incluindo a infraestrutura logística, se aproxima de US$ 19,5 bilhões, sendo cerca de US$ 8 bilhões para a mina e a usina, e mais de US$ 11 bilhões para a expansão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e do terminal portuário de Ponta da Madeira.
Construir o projeto S11D em plena Floresta Amazônica impôs desafios de engenharia e logística colossais.
A localização remota exigiu um planejamento meticuloso de equipamentos e uma gestão de projetos excepcional para superar os obstáculos e cumprir os cronogramas, com a montagem eletromecânica do sistema principal consumindo mais de 5 milhões de horas-homem de construção.
Por dentro da operação do projeto S11D
A inovação é o pilar do projeto S11D. Suas operações são marcadas por tecnologias que estabelecem novos padrões para a indústria.
Sistema “Truckless” (Sem Caminhões): A principal inovação do S11D é a substituição da frota convencional de caminhões fora-de-estrada por um sistema integrado de britadores móveis e correias transportadoras. Essa abordagem reduz o consumo de diesel em mais de 70% e as emissões de gases de efeito estufa em cerca de 50%.
Processamento a Seco: O beneficiamento do minério utiliza a umidade natural do material, eliminando completamente a necessidade de barragens de rejeitos. Esta tecnologia resulta em uma economia de 93% no consumo de água em comparação com métodos convencionais, o equivalente ao abastecimento anual de uma cidade com 400.000 habitantes.
Operações Autônomas: A Vale tem implementado progressivamente a automação no complexo de Carajás. O projeto S11D conta com uma rede 4G/LTE privada para operar perfuratrizes e, futuramente, caminhões autônomos em operações auxiliares.
Impactos socioambientais e a batalha com as comunidades
O design do projeto S11D trouxe benefícios ambientais significativos. No entanto, sua implementação em uma área de alta sensibilidade gerou complexos desafios socioambientais.
O licenciamento ambiental pelo IBAMA foi rigoroso e exigiu a realocação das pilhas de estéril, que estavam inicialmente propostas dentro da Floresta Nacional de Carajás, para fora da unidade de conservação.
A chegada do megapO novo projeto S11D da Vale, a mina tecnológica com operações sem barragens,representa um investimento superior a US$ 14 bilhões (1)rojeto a Canaã dos Carajás também intensificou conflitos agrários, levando ao deslocamento de agricultores familiares e comunidades rurais.
Relatos indicam uma forte expropriação das condições de vida da população local, que em grande parte não conseguiu se integrar à dinâmica da atividade mineral.
Essa “batalha” social demonstra o desafio de conciliar desenvolvimento econômico em larga escala com a proteção dos direitos e modos de vida das comunidades preexistentes.
Desempenho recorde e o futuro do projeto S11D
Desde o início de suas operações comerciais em 2017, o projeto S11D tem demonstrado uma trajetória de sucesso. Em 2024, a mina atingiu uma produção recorde de 83,0 Mt, próxima de sua capacidade nominal, um feito atribuído à otimização da manutenção e à alta disponibilidade dos ativos.
O futuro do S11D aponta para uma melhoria contínua e expansão. A Vale planeja aumentar a capacidade de produção em 20 Mtpa a partir de 2026, com um investimento adicional de US$ 2,8 bilhões.
O projeto S11D não é apenas a mina mais tecnológica do mundo, mas uma plataforma escalável que consolida a liderança da Vale no mercado global de minério de ferro de alta qualidade por décadas.