Ferrovia estadual pode mudar o transporte de cargas e impulsionar a economia local, mas será que vai realmente beneficiar todos os envolvidos?
O estado do Mato Grosso, conhecido como um dos maiores produtores de grãos do Brasil, tomou uma decisão ousada e estratégica: construir sua própria ferrovia, a Ferrovia Estadual Senador Vicente Vuolo.
O projeto, que corta parte do território mato-grossense, nasceu não apenas da necessidade logística, mas também da frustração com a demora do governo federal em atender às demandas da região.
O objetivo é claro: escoar a produção agrícola com mais eficiência, autonomia e competitividade no cenário nacional e internacional.
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Em vez de esperar por promessas não cumpridas, o estado optou por tomar as rédeas de seu desenvolvimento logístico.
A obra tem como ponto de partida o município de Rondonópolis e seguirá até o município de Lucas do Rio Verde, cruzando cidades estratégicas como Campo Verde, Primavera do Leste e Nova Mutum.
A extensão total será de aproximadamente 730 quilômetros, em um investimento bilionário viabilizado por meio de uma parceria público-privada (PPP) com a empresa Rumo Logística.
Projeto ferroviário regional e logístico
A ferrovia é uma resposta direta às limitações do transporte rodoviário, que ainda domina a logística brasileira, mas impõe custos altos e riscos para os produtores.
Hoje, mais de 70% da safra agrícola do estado é transportada por caminhões, o que sobrecarrega as estradas, aumenta o custo do frete e gera gargalos logísticos significativos, especialmente em épocas de colheita.
Com a ferrovia, espera-se reduzir o custo de transporte de grãos em até 30%, além de ampliar a competitividade do agronegócio mato-grossense no mercado global.
A integração da nova linha com a Malha Norte, que conecta Rondonópolis ao Porto de Santos, permitirá uma ligação direta entre os campos produtivos e os portos exportadores.
Para o setor produtivo, isso representa uma revolução logística há muito esperada.
Demora federal e autonomia do Mato Grosso
Apesar de o governo federal ter projetos antigos de expansão ferroviária para a região, como a FICO (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), os atrasos sucessivos fizeram com que a confiança na União se esvaísse.
O projeto da FICO, por exemplo, que deveria ligar Mara Rosa (GO) a Água Boa (MT), foi prometido desde a década de 1990, mas só recentemente entrou em fase inicial de obras — mesmo assim, com ritmo lento e incertezas.
Diante desse cenário, o governo do Mato Grosso decidiu usar as prerrogativas da nova Lei das Ferrovias, aprovada em 2021, que permite a autorização de projetos ferroviários por estados e empresas privadas, sem necessidade de concessão federal.
Foi assim que o estado saiu na frente e autorizou a construção da sua própria ferrovia, tornando-se pioneiro em um modelo que pode inspirar outras unidades federativas.
Investimento privado, impacto público
A obra está sendo financiada com recursos da Rumo Logística, que deverá investir cerca de R$ 11 bilhões ao longo dos próximos anos.
Em contrapartida, a empresa terá o direito de explorar economicamente a ferrovia por um período de até 45 anos.
O contrato de autorização prevê ainda metas de execução, prazos e contrapartidas sociais.
Além dos benefícios econômicos para o agronegócio, a construção da ferrovia deve gerar mais de 230 mil empregos diretos e indiretos ao longo da obra e da operação.
As cidades cortadas pela linha férrea também devem experimentar um novo ciclo de crescimento, com valorização imobiliária, atração de investimentos e melhoria da infraestrutura urbana.
Sustentabilidade e tecnologia limpa no transporte
O impacto ambiental da obra também está sendo considerado.
O projeto prevê compensações ambientais e o uso de tecnologias mais limpas no transporte ferroviário, com menor emissão de gases poluentes em comparação aos caminhões.
Em um cenário em que a pauta ESG (ambiental, social e governança) se torna cada vez mais relevante para grandes exportadores, a ferrovia representa também um trunfo verde para o estado.
Ferrovia estadual como símbolo de planejamento
A decisão do Mato Grosso vai além da infraestrutura: é uma afirmação de autonomia e planejamento estratégico.
Em vez de depender de burocracias e entraves federais, o estado decidiu agir para garantir seu próprio desenvolvimento, apostando na eficiência logística como diferencial competitivo.
O agronegócio mato-grossense, responsável por boa parte do PIB estadual, exige soluções rápidas e robustas — e a ferrovia surge como símbolo dessa nova postura.
Analistas do setor veem o projeto como um divisor de águas para o transporte ferroviário no Brasil, que ainda representa apenas 20% da matriz logística nacional.
A médio e longo prazo, a Ferrovia Senador Vuolo poderá atrair novos investimentos em polos industriais, centros de distribuição e até turismo ferroviário, dada a magnitude da estrutura em construção.
Modelo pode inspirar outros estados
Com a abertura proporcionada pela nova legislação federal e o exemplo de sucesso do Mato Grosso, cresce a expectativa de que outras regiões do Brasil também adotem o modelo de ferrovias estaduais.
Estados como Goiás, Minas Gerais e Maranhão já estudam projetos semelhantes, de olho nas vantagens econômicas e logísticas proporcionadas pela autonomia na infraestrutura.
A pergunta que fica é: será que o sucesso da ferrovia mato-grossense vai inspirar uma nova era ferroviária no Brasil, baseada em protagonismo estadual e iniciativa privada?