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2000 anos depois, IA foi capaz de entender antigos escritos soterrados pela erupção do Vesúvio em 79 d.C, Obras eram consideradas perdidas.

Escrito por Jefferson S
Publicado em 01/06/2025 às 10:36
Visualização 3D de pergaminho carbonizado de Herculano sendo desembrulhado virtualmente, com camadas destacadas por mapas de calor e traços de tinta contrastantes em fundo escuro
Representação digital em 3D de um pergaminho carbonizado sendo desembrulhado virtualmente, exibindo camadas coloridas por mapas de calor e vestígios de tinta antiga

Em 79 d.C., a erupção do Monte Vesúvio soterrou Herculano sob camadas de cinzas e fluxos piroclásticos, convertendo sua biblioteca em fragmentos de papiro carbonizado. Durante séculos, qualquer tentativa de desenrolar esses pergaminhos levava à destruição irreversível dos textos.

Agora, pesquisadores como Brent Seales, da Universidade de Kentucky, combinam tomografia por raios-X de alta resolução com algoritmos de inteligência artificial para obter o primeiro vislumbre dessas camadas milenares sem tocá-las fisicamente, a informação foi publicada esta semna pela Earth.com.

A Erupção do Vesúvio em 79 d.C.

Segundo registros históricos (Plínio, o Jovem) e evidências arqueológicas, o Monte Vesúvio entrou em erupção em meados de outubro de 79 d.C., lançando uma coluna pliniana de cinzas e pedra-pomes a mais de 30 km de altura, seguida por seis ondas de correntes piroclásticas que alcançaram temperaturas entre 140 °C e 360 °C.

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Essas nuvens incandescentes varreram Herculano, soterrando edifícios e inumando vidas instantaneamente (Wikipedia). Fragmentos arqueológicos confirmam que parte significativa da cidade foi tomada por depósitos piroclásticos de mais de 10 m de espessura, preservando estruturas e objetos, mas transformando textos em papiros carbonizados e ilegíveis.

Herculano, vizinha de Pompeia, abrigava uma próspera elite romana, cuja biblioteca reunia rolos de papiro contendo obras literárias, filosóficas e jurídicas.

Diferentemente de Pompeia, cujos registros de parede e objetos decorativos ganharam destaque, Herculano era famoso por seus volumosos pergaminhos arrumados em prateleiras.

Porém, o calor extremo e a pressão das cinzas comprimiram cada rolo em camadas frágeis que, até recentemente, pareciam impossíveis de abrir sem obliterar o texto.

Reprodução Earth.com

Desafios técnicos para ler pergaminhos carbonizados

Os pergaminhos estão quase totalmente convertidos em matérias à base de carbono—tanto o papiro original quanto a tinta. Essa identidade química torna extremamente difícil distinguir letra de e apenas por visão direta.

Tentativas mecânicas de desenrolar ou separar camadas resultavam em fragmentação e perda permanente de conteúdo.

Muitos papirologistas concluíram que somente a remoção física de camadas, seguida de restauração manual a partir de migalhas de texto, poderia revelar fragmentos isolados, tarefa demorada, com margens de erro elevadas e grande risco de inutilizar completamente o artefato.

Métodos ópticos convencionais, como luz ultravioleta ou infravermelho, não forneciam contraste suficiente para diferenciar a tinta carbonizada do papiro.

Tomografia por Raios-X: uma janela tridimensional

Pesquisadores escanearam rolos carbonizados em aceleradores de raios-X de alta energia, produzindo imagens tridimensionais das camadas internas sem necessidade de qualquer manipulação física do papiro. Cada pixel do escaneamento capta diferenças sutis na densidade, permitindo mapear a estrutura interna do volumem.

A tomografia produz “slices” digitais—fatiamentos virtuais que retratam as camadas superpostas dos rolos. Esses cortes permitem que especialistas sigam a curvatura natural do papiro, selecionando superfícies que correspondem a cada camada imediatamente abaixo da anterior. Assim, formam-se milhares de fatias concêntricas, cada uma registrando minerais residuais e vestígios de tinta.

Inteligência Artificial: do “ruído” à letra legível

Apesar de ambos serem carbono, a tinta utilizada pelos escribas antigos exibia traços de impurezas e metais — vestígios de vernizes ou óxidos metálicos, que produziam contraste minimamente diferente nos raios-X.

Algoritmos de aprendizado de máquina foram treinados por pesquisadores (liderados por Stephen Parsons) para reconhecer esses padrões de contraste em meio ao “ruído” de fundo do papiro. Cada voxel (pixel volumétrico) com metálica é destacado como possível tinta.

Parsons coordena um concurso global em que cientistas da computação aprimoram redes neurais capazes de separar virtualmente o traçado da mão do autor dos efeitos relacionados à degradação carbonizada.

Vencedores já treinaram modelos que ressaltam palavras inteiras, frases parciais e abreviações gregas e latinas, aproximando-se de 100% de precisão de leitura.

Desembrulhamento virtual: restaurando agens perdidas

Fluxo de trabalho para ler fragmentos

  1. Escaneamento – O rolo carbonizado é posicionado em um microtomógrafo de última geração.
  2. Reconstrução 3D – Softwares recompõem todas as fatias em uma malha tridimensional precisa.
  3. Segmentação de camadas – Ferramentas de visão computacional isolam cada folha de papiro.
  4. Extração de texto – Algoritmos de IA detectam regiões de contraste correspondentes à tinta.
  5. Costura de fragmentos – Um script digital “dobra” virtualmente as camadas, apresentando o texto plano em sequência.

Essa mesma técnica de “desembrulhamento virtual” foi usada com sucesso no Pergaminho En-Gedi, um manuscrito hebraico do século I d.C. embora menos carbonizado que o material de Herculano. A adaptação para rolos visivelmente mais complexos exigiu calibragem de parâmetros de IA, mas a metodologia provou ser escalável.

Descobertas iniciais e implicações

As primeiras áreas legíveis indicam trechos de obras epicuristas, abordando teorias sobre o prazer e a ética do cotidiano. Citações parciais mencionam reflexões sobre como a escassez impacta a busca por felicidade nas “coisas simples da vida”.

Caso confirmado, esses fragmentos podem preencher lacunas na transmissão de filósofos helenísticos pouco conhecidos.

Mais de cinquenta participantes de programas acadêmicos foram premiados por contribuir com códigos de segmentação e identificação de padrões de tinta. Muitos são estudantes de ciência da computação e arqueologia que, em diferentes locais do mundo, trabalharam remotamente para refinar cada atualização do modelo de IA.

A “biblioteca invisível” engloba manuscritos de papiro e pergaminho de todo o Oriente Médio e o Mediterrâneo, muitos hoje guardados em coleções que não se atrevem a desenrolá-los.

Com a comprovação de que um rolo pode ser lido quase na íntegra, museus e institutos planejam escanear séries inteiras de coleções carbonizadas, transformando-as em arquivos digitais íveis a estudiosos globalmente.

Além de restaurar textos, a combinação de raios-X e IA pode reconstruir estilos de escrita, variantes dialetais e vocabulário perdido. Espera-se que remanescentes de grafias originais revelem transições entre estilos de caligrafia, auxiliando datadores de manuscritos e reconstruções de genealogias literárias.

O trabalho conjunto de tomografia por raios-X e inteligência artificial devolve voz a autores romanos desaparecidos há duas milenárias.

O primeiro vislumbre das letras de um pergaminho carbonizado, antes considerado inalcançável, simboliza o potencial de resgatar memórias culturais julgadas extintas.

Como disse Parsons, “podemos assegurar que praticamente todo o rolo está repleto de texto”; basta continuar aperfeiçoando os modelos. Cada frase revelada ajuda a reconstruir práticas filosóficas, debates cotidianos e modos de vida de uma civilização que, embora soterrada, permanece viva em cada caractere recuperado.

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Jefferson S

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: [email protected]

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